quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Na noz

HAWKING, Stephen. O universo numa casca de noz. 4ª. ed. Tradução de Ivo Korytowski. São Paulo: ARX, 2001.
Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito. Shakespeare.

Livro dividido em 7 capítulos, 211 páginas. Apesar de querer, não consegui ler o livro sem largar. Tem muito de física, de química, de simetria espacial, precisei ler como quem degusta um vinho: sentindo cada sabor, perscrutando cada conceito como a novidade que era, imaginando todo o espaço que ele descreve... tudo em 3 dimensões... Fantástico!!! Com um muito bom humor
O livro todo fala de novas tecnologias, perturbadoras, mas acalma o leitor despreparado para esse admirável mundo novo com frases de efeito:
... é melhor viajar com esperança do que chegar.
... seremos sempre o centro de um horizonte de possibilidades em expansão.
“Kant supunha que o tempo possuía um significado independente do universo.”
A discussão entra pela matemática e desemboca na filosofis... 42! Eu responderia, lembrando do Mochileiro das galáxias... “Poderia-se pensar que isso significa que os números imaginários não passam de um jogo matemático, sem nenhuma relação com o mundo real. Do ponto de vista da filosofia positivista, porém, não é possível determinar o que é real. Tudo que se pode fazer é descobrir quais modelos matemáticos descrevem o universo em que vivemos. Afinal, um modelo matemático envolvendo o tempo imaginário prevê não apenas efeitos que já observamos, mas também efeitos que ainda não conseguimos medir, porém nos quais acreditamos por outros motivos. Então, o que é real e o que é imaginário? A distinção está apenas em nossas mentes?
“A coisa mais óbvia sobre o espaço é que ele continua e continua e continua.”
“Einstein afirmava que Deus não joga dados. Entretanto, tudo indica que Deus é um grande jogador. O universo pode ser imaginado como um gigantesco cassino, com dados sendo lançados ou roletas sendo giradas a todo momento.” Eu adorei isso...
“Como o universo continua lançando dados para ver o que acontece depois, ele não tem uma única história, como se poderia pensar. Pelo contrário: o universo deve ter várias histórias possíveis, cada uma com sua própria probabilidade.”
“Em ciência, encontrar a formulação certa de um problema constitui, muitas vezes, a chave para a sua resolução.”
“Bons jogadores gostam de apostar em peculiaridades.”
“...a vida biológica e eletrônica continuarão evoluindo em complexidade a um ritmo sempre crescente.” – se a gente não acabar com tudo antes...
“Em nenhuma época, durante aproximadamente dez mil anos desde a última Era Glacial, a raça humana vivenciou um estado de conhecimento constante e tecnologia fixa. Houve alguns retrocessos, como a Idade das Trevas, após a queda do Império Romano. Mas a população mundial, que é um indicador de nossa capacidade tecnológica de preservar a vida e nos alimentar, tem crescido constantemente, com apenas alguns contratempos como a Peste Negra.”
“Atualmente, a taxa é de cerca de 1,9 por cento ao ano. Isso pode parecer pouco, mas significa que a população mundial dobra a cada 40 anos.
Outros indicadores do progresso tecnológico nos últimos anos são o consumo de eletricidade e o número de artigos científicos. Eles também mostram um crescimento exponencial, dobrando em menos de 40 anos. Não há sinal de que os progressos científico e tecnológico diminuirão e pararão em um futuro próximo – certamente não na época de Jornada nas estrelas, que deve existir em um futuro não muito distante. Mas se o aumento da população e do consumo de eletricidade continuarem no ritmo atual, em 2600 as pessoas ficarão ombro a ombro e o consumo de eletricidade deixará a terra incandescente.
Se você dispusesse todos os novos livros um ao lado do outro à medida que fossem sendo publicados, teria de correr a 145 quilômetros por hora apenas para acompanhar o fim da fila., Claro que, em 2600, as novas obras artísticas e científicas virão em formas eletrônicas, e não como libros e artigos físicos. Contudo, se o crescimento exponenecial prosseguisse, surgiriam dez artigos por segundo no meu ramo da física teórica, e não haveria tempo para lê-los).
Evidentemente o atual crescimento exponencial não pode durar para sempre. Então o que acontecerá? Uma possibilidade é nos exterminarmos completamente por algum desastre, como uma guerra nuclear. Os pessimistas dizem que o motivo por que não fomos contatados por extraterrestres é que, quando uma civilização atinge nosso estágio de desenvolvimento, torna-se instável e destrói a si mesma. Contudo, sou um otimista, não acredito que a raça humana tenha chegado tão longe simplesmente para se extinguir justo quando as coisas estão se tornando interessantes.”
“De longe, os sistemas mais complexos que temos são nossos próprios corpos. A vida parece ter se originado nos oceanos primordiais que cobriam a terra há 4 bilhões de anos. Como isso aconteceu, não sabemos. Pode ser que colisões aleatórias entre átomos formaram macromoléculas capazes de se reproduzir e de se reunir em estruturas ainda mais complexas. O que sabemos é que, há 3,5 bilhões de anos, a altamente elaborada molécula DNA surgiu.
O DNA é a base de toda a vida na Terra. Ele tem uma estrutura de dupla hélice – como uma escada em caracol – que foi descoberta por Francis Crick e James Watson no laboratório de Cavendish, em Cambridge, em 1953. Os dois filamentos da dupla hélice estão ligados por pares de ácidos nucléicos, como os degraus de uma escada em caracol. Há quatro tipos de ácidos nucleios: citosina, guanina, timina e adenina. De acordo com a ordem em que os diferents ácidos nucléicos ao longo da espiral. Na maior dos casos, os erros na cópia tornam o DNA impossibilitado ou com menos probabilidade de se reproduzir, fazendo com que esses erros genéticos – ou mutações, como são chamados – se extingam. Mas, em uns poucos casos, o erro ou mutação aumentará as chances de o DNA sobreviver e se reproduzir. Tais mudanças no código genético serão favorecidas. É assim que as informações contidas na sequencia de ácidos nucléicos gradualmente envoluem e ficam mais complexas.
“Como o universo continua lançando dados para ver o que acontece depois, ele não tem uma única história, como se poderia pensar. Pelo contrário: o universo deve ter várias histórias possíveis, cada uma com sua própria probabilidade.
“Evidentemente o atual crescimento exponencial não pode durar para sempre. Então o que acontecerá? Uma possibilidade é nos exterminarmos completamente por algum desastre, como uma guerra nuclear. Os pessismistas dizem que o motivo por que não fomos contatados por extraterrestres é que, quando uma civilização atinge o nosso estágio de desenvolvimento, torna-se instável e destrói a si mesma. Contudo sou um toimista.”
“A taxa de aumento da complexidade do DNA aumentou gradualmente para cerca de uma unidade por ano nos últimos milhões de anos. Até que, cerca de seis ou oito mil anos atrás, um novo e maior progresso ocorreu: nós desenvolvemos a língua escrita. Com isso, informações puderam ser passadas de uma geração a outra sem precisar esperar que o tão lento processo de mutações aleatórias e seleção natural as codificasse na sequencia de DNA. O grau de complexidade aumentou tremendamente. Um único romance em brochura podia conter tantas informações quanto a diferença entre DNAs de macacos e serde 30 volumes podia descrever toda a sequencia do DNA humano.”
“Essa transmissão de dados por meios externos, não-biológicos, levou a raça humana a dominar o mundo e a ter uma população em crescimento exponencial. Mas agora estamos no início de uma nova era, durante a qual seremos capazes de aumentar a complexidade de nosso registro interno, o DNA, sem ter de esperar pelo lentro processo da evolução biológica. Não houve mudança significativa no DNA humano nos últimos dez mil anos, mas é provável que sejamos capazes de reprojetá-lo totalmente nos próximos mil anos. Claro que muita gente dirá que a engenharia genética em seres humanos deveria ser proibida, mas dificilmente conseguiremos impedi-la.”
“Obviamente a criação de seres humanos apromorados acarretará grandes problemas sociais e políticos no que diz respeito aos seres humanos comuns. Minha intenção não é defender a engenharia genética humana como evolução desejável, mas apenas dizer que é provável que ela aconteça, queiramos ou não. Essa é a razão por que não acredito em ficções científicas como Jornada nas estrelas, nas quais pessoas 400 anos no futuro são essencialmente como nós hoje. Acho que a raça humana e seu DNA aumentarão sua complexidade rapidamente. Deveríamos reconhecer que isso tende a ocorrer e avaliar como lidaremos com esse fato.”
“De certo modo, a raça humana precisa melhorar suas qualidades mentais e físicas para lidar com o mundo cada vez mais complexo à sua volta e enfrentar novos desafios, como as viagens espaciais. Os seres humanos também precisam aumentar sua complexidade para que os sistemas biológicos se mantenham à frente dos eletrônicos.”
“Esse aumento da complexidade biológica e eletrônica prosseguirá para sempre ou existe um limite natural: Do lado biológico, o limite da inteligência humana tem sido, até agora, fixado pelo tamanho do cérebro que passará através do canal do parto. Tendo presenciado o nascimento de meus três filhos, sei como é difícil a cabeça sair. Mas creio que nos próximos cem anos conseguiremos desenvolver bebês fora do corpo humanos, de modo a eliminar essa limitação. “
“Podemos ser espertos ou muito inteligentes, mas não ambos.”
“Outra forma de aumentar a complexidade dos circuitos eletrônicos, mantendo sua velocidade, é copiar o cérebro humano. O cérebro não possui uma CPU – Unidade Central de processamento – única que processa cada comando em sequencia. Ao contrário, possui milhões de processadores trabalhando juntos ao mesmo tempo. Tal processamento paralelo maciço será também o futuro da inteligência eletrônica.”
“As bactérias se defendem muito bem sem inteligência e sobreviverão a nós se a nossa suposta inteligência provocar nosso extermínio em uma guerra nuclear. “
“Na verdade, para exolicar a velocidade com que as estrelas orbitam o centro de nossa galáxia, aparentemente deveria haver mais massa do que aquela deduzida a partir da matéria que observamos.” – Mas esse pensamento pode ser aplicável a algo tão pequeno quanto um ser, por exemplo, ou só ao objeto grande quanto planetas e sistemas solares?
Porque esse livro é tão fundamental: porque mesmo que você não compreenda extamente o que ele diz, prova com a física, você consegue observar um futuro prático, uma visão da aplicação prática da teoria que ele expõe.


Naturalmente é uma palavra pro-fun-da-men-te complexa nesse livro!

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